sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

As blattarias



Desde o período Siluriano existem registros de baratas, esses pequenos insetos que muito pouco mudaram nos últimos 400 milhões de anos. Para a imensa maioria dos mortais o que de menos importante há nisso tudo é o significado da palavra Siluriano. Então, por que logo eu me importatria com isso! As baratas de hoje, isso sim é relevante e merece minha atenção, são muito semelhantes as do passado. Mudaram em relação à genitália da fêmea; mudaram as estruturas e a funcionalidade essencial das asas que deixaram de ter como função principal o voo... Para nós, entretanto, barata continua sendo barata! Pense numa baratinha, isso mesmo, pense! Leia este trecho somente os homens... Que ideia vem à sua mente? Agora, leiam esta parte somente as mulheres... Que ideia vem à sua mente? Consegue pensar diante de uma baratinha? Não precisam responder, fiz apenas uma sondagem, um exercício de casa fundado nas suas experiências ancestrais.

São de uma adaptabilidade impressionante e sobrevivem em lugares quentes e úmidos. Em edificações, adoram cozinhas e habitam, em demasia, nossas redes de esgoto. Coahitam também em regiões semi-aquáticas, aquáticas, em desertos, cavernas e, apesar de existirem espécies solitárias, algumas adoram a vida gregária... Quem de nós, humanos, prescinde de uma boa baratinha no lar doce lar, hein? Homens adoram os gritinhos frenéticos de mulheres surpreendidas por baratas sorrateiras que surgem inesperadamente – elas sentem asco... Elas quem, as baratas? De toda sorte, são iguais que se digladiam: baratinhas versus baratinhas.

Pândegas por excelência, as blattarias adoram a vida noturna – talvez possuam embriaguez diversa da nossa, mas é exatamente nesse ambiente urbano que buscam alimento e parceiros para o acasalamento, quando os machos são atraídos por feromônios sexuais e o contato físico provoca intensa ‘antenação’! Durante o dia permanecem escondidas. Afinal, são baratas ou serpentes? De quem ou do que se escondem? Por acaso preparam os botes durante o dia para os executarem na calada da noite? Essas baratas não tomam jeito mesmo!

Segundo fontes fidedignas, barata nas ruas durante o dia significa que para cada baratinha que encontramos existem 1.000 escondidas! Esses insetinhos que passam 75% de seu tempo descansando, assumem posição característica: antenas voltadas pra frente com ângulo entre elas de 60º e pernas rente à superfície. Nossa! Quanta coincidência com outra espécie animal que conheço! Uma espécie que vive antenada, girando 360º diariamente e com a cabeça voltada para o outro, tramando sempre!

Existem as baratas voadoras e as não voadoras, ambas ofensivas ao homem... Mas afinal, como matar uma barata? Por que é tão difícil dar uma boa pisada numa baratinha, causando-lhe achatamento dorso-ventral? É que as baratinhas ao sentirem o fanfalhar de suas Havainas movimentando o ar, sim, elas correm! E pasme, não é uma fuga improvisada – ela, a baratinha, sabe exatamente pra onde correr! E mesmo assim você (assassino!?) vive matando baratas!

Segundo outra fonte consultada durante a pesquisa, as baratinhas fogem de nós porque pressentem o ‘apocalipse emborrachado’ se aproximando delas... E o autor ainda nos deixa uma importantíssima dica: ‘sempre pisar na barata um pouco atrás e à sua esquerda, para aumentar as chances de matá-la’. No mesmo site, um internauta arrematou: ‘sugiro, baseado em dados empíricos, o emprego do pé direito do chinelo para desferir o apocalipse, pois a área da planta do pé voltada para a esquerda aumenta a probabilidade de sucesso!’ Se pensa que acabou, enganou-se, pois tem mais. Um outro internauta escreveu: ‘elas sempre viram à esquerda! Pra testar esta hipótese, teríamos que ensinar as baratas a escrever e ver com que perna elas seguram o lápis!’... E pra finalizar a participação dos plugados do mundo moderno, transcrevo a melhor de todas, idealizado por quem mais afinidade possui com as baratinhas, a mulher: ‘Estranho, mas nunca errei minhas pisadas! Também, sempre depois do escândalo que faço, pulo com os dois pés sobre a infeliz! Deve ser por isso’.E se falássemos de gente... Ih! Confesso que não saberia informar há quantos milhões de anos existe o bicho homem! Nem se mudou significativamente nesse período. Será que o bicho homem evoluiu em relação à genitália feminina? Já sei – hoje elas se mostram mais! Aprendemos a voar, mas nossas asas ainda são muito pesadas e não nos dão tanta autonomia existencial... E para as baratas, continuamos sendo humanos, algozes?

Temos homens-barata que adoram cozinhas, ralos, esgotos... Não que sejam fisicamente aderidos a essas superfícies, mas estão internamente bem adaptados a elas. Assim como as baratas, escolhemos a vida em sociedade e nos isolamos ou por mera vaidade ou por catástrofes internalizadas dentro das nossas próprias fugas. Exalamos nossa própria podridão metamorfoseada pela transformação que operamos nos outros dentro de nós mesmos – somos a autofagia da decrepitude insensata do erro primário.

Em nossas farras noturnas também buscamos o alimento e acasalamento... Existem feromônios desencadeando reações químicas. E o contato físico pode causar, embora não compulsoriamente, perpétua ‘antenação’ – traduzindo-se esse fenômeno atualmente por retorno ao mundo Viking, por galho, por chifre... Invente a sua própria denominação, tente, você pode! Ou é daqueles que não vive antenado? Cuidado, amigo(a)! No mundo moderno estar unpluged é sinal de limitação epistemológica – o homem/mulher de vanguarda deve ser um homem/mulher antenado(a)!

Agora é a hora de tocar o ‘barata voa’! Hoje tem, bicharal! – diriam meus veteranos de Academia. E tem mesmo, tem todos os dias.

... Homem não voa, mas se esconde. Voa! E aquela figura que você nunca encontra no trabalho quando precisa? E aquele boa vida que sempre foge pelo ralo sem tomar decisões, largando tudo em suas mãos, rapaz! Esse papo virou papo de homem? E as baratinhas, por que as ignorar? Voltemos às baratinhas então...

Mas, afinal, como matar uma baratinha? Gosto de ângulos de 90º. Será que assim eu mato uma baratinha? E se ela agir diferentemente, preferindo fugir a 120º, 150º, 180º... Essas baratas! Bom mesmo é entrar com os dois pés e ponto final.

– Ah, meu Deus! Uma barata!

E esse gritinho, rapaz! Isso é coisa de barata, sabia?

Sendo assim, voltemos a falar das baratinhas, desses insetos... Gritinhos. E se falássemos das mulheres? Se falássemos das mulheres... A baratinha voaria, não voaria? Afinal, elas voam há milhões de anos e não mudaram muito ao longo do tempo, continuam baratinhas. Barata voa?

Nijair Araújo Pinto
Fortaleza-CE, 13 de janeiro de 2010.
02h19min

Nenhum comentário: